quinta-feira, 5 de maio de 2011

História do Perfume

Perfumes
As essências da natureza
Seu uso já serviu para expressar elegância, sensualidade; hoje, faz as mulheres se sentirem confiantes. A fabricação continua a ser uma arte
Gabriela Scheinberg

Certa vez perguntaram a Marilyn Monroe o que ela usava para dormir. A resposta veio rápida: "Duas gotas de Chanel nº 5". Já Audrey Hepburn teve o privilégio de ganhar um perfume em sua homenagem, o L’Interdit, de Gi
Velhos tempos
A Gessy começou com Marta Rocha como garota propaganda. Hoje, como Gessy Lever, já conta com mais estrelas, como Giulia Gam

venchy. Associar a fragrância a uma pessoa é um ato tão comum como ter um nome. A mesma coisa quanto as qualidades de quem usa determinados perfumes. Se, no passado, toda mulher sonhava em ser tão sexy quanto Marilyn ou tão elegante como Audrey, hoje elas preferem escolher perfumes que as façam sentir mais confiantes. É esse o resultado de uma pesquisa com 30 mil mulheres em 33 países, realizada pela Avon.

Refrescar-se com perfume é um hábito tão antigo que se perde no tempo. Foi registrado pela primeira vez no Antigo Egito, onde as essências eram queimadas como oferendas aos deuses (a origem da palavra perfume vem de "fumus" ou fumaça). Hoje, sofisticou-se, tornou-se uma indústria poderosa. No Brasil, onde a princípio só era usado pelas damas da Corte, democratizou-se. O país é o quinto colocado em venda de perfumes do mundo.

Produto raro, importado da Europa, no início do século 19, o perfume era privilégio da nobreza brasileira. Suas propaladas virtudes e a química no preparo faziam crer que, além de agradável ao olfato, era benéfico à saúde. Com o tempo, ganhou o direito de ter um fabricante oficial da Corte, a Casa Granado. Antes disso, funcionava sob encomenda à Botica Ao Veado d’Ouro, conhecida até hoje.

As variações do cheiro
Um perfume possui três notas (cheiros) principais.
O tipo de perfume depende da quantidade de cada nota.
1 As notas de cabeça são responsáveis pelo primeiro cheiro que a pessoa sente quando abre o perfume. Elas evaporam rapidamente. Ex.: Cítricos

2 As notas de corpo ou coração são as que classificam o perfume. Elas dão o cheiro das primeiras quatro horas após a aplicação da fragrância. Ex.: Florais

3 As notas de fundo ou base são as mais densas, que impregnam a pele após um longo período. Ex.: Amadeirado.

Tudo era muito diferente dos tempos mais industrializados do século 20. A maioria dos perfumes antes disso era extraída de substâncias aromáticas contidas nos vegetais. Com os avanços científicos, uma pequena revolução nos laboratórios começou a mudar a indústria dos cheiros: compostos sintéticos reconstituíram aromas naturais ou criaram produtos novos. A perfumaria se expandiu e ganhou o mundo.

Nome francês
Os perfumes hoje são classificados segundo grandes famílias de essências, ou seja, óleos que, além do aroma principal (flores, musgos, plantas, arbustos etc.), contêm água, álcool, filtro ultravioleta (para manter a cor) e antioxidantes (que evitam o azedamento do óleo). As diferenças resultam da concentração de essências e álcool utilizados na confecção. São eles que determinam a divisão dos perfumes em cinco tipos, quase todos conhecidos pelo nome em francês – extrato, eau de parfum, eau de toilette, eau de fraiche e eau de cologne ou colônia.

A fragrância principal é formada por notas, na linguagem do "perfumês". Antigamente se obtinha o cheiro das flores com ajuda de gordura animal ou destilação a vapor. Métodos mais novos extraem o aroma no local e reproduzem no laboratório.

Os ambientalistas agradecem: hoje não é preciso mais extrair quilos de flores, colhidas ao amanhecer, para obter uma fragrância exótica. Os perfumes ficaram mais acessíveis a todos os bolsos e possibilitaram a criação de grandes indústrias nacionais, como a Phebo, que lançou a Seiva de Alfazema, em 1924, e a Eucalol, criadora de uma linha famosa de sabonetes em 1928. Um ano depois, surgiu também o Leite de Rosas, da L.R.

Em 1935, a fabricante francesa Coty introduziu no país a sua linha de brilhantinas aromatizadas. Foi o empurrão que os homens precisavam para aderir aos perfumes. Hoje, eles representam um mercado em expansão. "O homem está mais preocupado com a aparência, é mais vaidoso", constata Rodolfo Melo, gerente de produto do Boticário.

Os perfumes masculinos representam hoje 25% do mercado nacional. A situação é muito diferente dos anos 40, época de instalação da Colgate, quando os fabricantes começaram a produzir essências aqui mesmo, diante da impossibilidade de importá-las da Europa em guerra.


Velhos tempos
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Em 1946, a Colgate criava a linha Cashmere Bouquet. A Niasi, que antes importava os produtos da França, começou a sua própria fabricação em 1953, com o perfume Marcel Rochas. Daí em diante, a produção nacional explodiu. A Payot, inaugurada em 1950, lançou a sua linha de tratamento de pele. A Dana do Brasil aproveitou o momento para criar o perfume Tabu, em 1956. Pouco depois, a Avon chegou ao país (1959). Com a empresa, veio também uma nova concepção de vender perfumes: a linha direta.

Ao bater de casa em casa, as revendedoras Avon levaram os perfumes aos locais mais remotos do país. "Na Amazônia, as mulheres chegavam a trocar ouro por perfume, por falta de uma moeda corrente", conta a pesquisadora de perfumes Renata Ashcar, autora do livro Brasilessência, que relata a história das fragrâncias nacionais, com lançamento previsto para este ano.

Casa em casa

O sistema de venda direta da Avon revolucionou não só o mercado de perfumes, mas o movimento feminista, ao dar oportunidade de trabalho e renda para muitas donas de casa. Foi copiado por outras empresas, como a Natura, criada em 1969. Hoje, ele é responsável por 60% do comércio de perfumes no país.

As fragrâncias também mudaram. O que fazia sucesso no princípio do século perdeu a vez diante do entusiasmo despertado pelos perfumes mais recentes. Por isso mesmo, a indústria tratou de guardar zelosamente suas fórmulas. Os aromas verdes que fizeram sucesso no fim da Segunda Guerra Mundial foram substituídos por fragrâncias de musgos e flores; na década de 60, a cor da embalagem do perfume Rastro – rosa-choque – encantou as mulheres; nos dez anos seguintes, voltou a moda dos florais, abandonada, no início dos anos 80, pelos aromas orientais. Nos anos 90, era atraente a mulher que usava perfumes unissex, moda iniciada pelo CK1, da Calvin Klein.

Hoje, já se perdeu a conta das fragrâncias no mercado. Contribui para isso a alta tecnologia empregada pela indústria e os testes químicos que garantem a qualidade dos perfumes. Não é preciso mais, por exemplo, banhar-se em perfume de manhã para chegar ao fim do dia cheirando bem. As misturas não se volatizam com facilidade e algumas gotinhas bastam para garantir que o aroma perdure durante várias horas.

Clima e cheiro

Segundo os fabricantes, há um mercado muito segmentado no país. O setor fatura R$ 800 milhões por ano – 70% disso é resultado da venda exclusiva para mulheres. Curiosamente, elas não seguem sempre as mesmas preferências.

Conta pontos na escolha a região e o clima. As mulheres do Nordeste, por exemplo, gostam de fragrâncias mais frescas, como a lavanda, conforme ensina Christiane Marcello, gerente de produtos da Avon. O calor assim o exige. "O Nordeste é o único lugar do Brasil em que se vende perfume em litros", conta Christiane. "As mulheres literalmente tomam banho de perfume."

Além disso, as brasileiras acostumadas com clima quente preferem aromas orientais associados à sensualidade. "São perfumes que combinam com o hábito de usar roupas mais leves", afirma a especialista. O clima também explica as preferências no Sudeste. Ali, as mulheres adotam costumes europeus, escolhendo fragrâncias florais durante o dia e orientais à noite. Quando começou a pesquisar as preferências das brasileiras para o seu livro, Renata Ashcar descobriu que as mulheres nordestinas usam, em média, 12 perfumes, enquanto as do Sudeste são fiéis apenas a três – muitas vezes importados.

Na guerra das fragrâncias, cada mulher aproveita para ter o "seu" perfume. "Todas querem aromas que acentuem a sua personalidade", comenta Rodolfo Melo, do Boticário. "Nada de água de cheiro." Mas a moda atual pede aromas que misturem essências florais com orientais.

A busca de um perfume agradável e pessoal pode ser explicada pela biologia. Pesquisas realizadas pelo Instituto Max Planck, de Ploen, na Alemanha, e pela Universidade de Edimburgo, na Escócia mostram que as pessoas escolhem para si odores semelhantes ao seu cheiro natural. E qualquer perfume que não seja o próprio é agradável em terceiros.

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